O
DIA 19 DE MAIO SERA' SEMPRE LEMBRADO!...
O corpo de Frei Daniel é sepultado com toda a pressa, como mandavam
as leis, mas no enterro havia numeroso povo: os pobres e os doentes, sobretudo,
acorreram em multidão.
É o dia 19 de maio de 1924: um dia qualquer, sem importância
no calendário dos homens, mas quanta alegria, quanta festa, quanto
júbilo nos Altos dos Céus!
O "bambu" chegou até lá em cima! Começa a estar
disponível o "nosso bambu"!..
A lembrança de Frei Daniel continua viva - nunca se apagou de
fato - e também agora, não obstante os setenta anos desde
sua morte, ele consegue alcançar do Bom Deus graças e favores
muito mais que o renomado e experimentado Sto. Antônio!...
Chegamos a conferir o número de plaquinhas por graças alcançadas
na nossa igreja de Belém do Pará: Frei Daniel, confinado
num corredor que dá acesso à portaria do convento, sendo
que ainda não é o tempo de colocá-lo num altar, está
cercado por um número bem maior de placas "POR GRAÇA ALCANÇADA"
do que aquelas colocadas no altar do taumaturgo de Pádua. Isto acontece
porque o povo simples, os pobres, os humildes do Evangelho e da Terra não
deixam Frei Daniel tranqüilo. Detêm-se longamente em oração
diante de seu quadro no corredor mencionado. Os frades o colocaram aí
para evitar que fossem feitas manifestações índevidas
de culto a quem ainda não foi declarado digno das honras dos altares,
porém os pobres já o colocaram há muito tempo no altar
e se dirigem a ele como se já fosse um santo, un grande Santo...
"Vox populi, vox Dei", reza desde sempre a sabedoria popular: Voz
do povo, voz de Deus...
Assim, finalmente, também nós Frades Capuchinhos, co-irmãos
de Frei Daniel, despertamo-nos do longo sono da indiferença e da
inconsideração e começamos seriamente a pensar que
tinha chegado o momento de pedir ao Bispo de Belém e ao Vaticano,
em Roma, o "nada obsta" para iniciar os processos sistemáticos
e canônicos com o objetivo de documentar suas virtudes heróicas.
E assim foi. Na década dos anos '80 foi escolhido um frade como
Vice-Postulador e D. Alberto Gaudêncio Ramos, antes, e D. Vicente
Joaquim Zico, depois, Arcebispos de Belém. do Pará, encaminharam
o pedido a Roma para que se pudesse começar a desenvolver o Processo
de Beatificação de Frei Daniel.
Em 1991 chegou da Sagrada Congregação para a causa dos Santos
a suspirada permissão e assim, mesmo muito lentamente, a grande
"máquina" do processo foi posta em movimento e está funcionando.
Cabe aqui recordar, porque é digna de ser sublinhada, a instalação
oficial do Tribunal Eclesiástico que julgará "in loco" a
heroicidade das virtudes de Frei Daniel. Aconteceu na inesquecível
noite de 16 de agosto de 1992, depois da Solene Celebração
Eucarística na esplêndida Catedral de Belém presidida
por D. Vicente Joaquim Zico. Na sua homilia o Prelado teve para Frei Daniel
palavras cheias de profundo significado, exaltando-o como:
grande missionário
- grande sofredor - glória do clero paraense.
Esta última definição foi a que comoveu os missionários
presentes, sobre os quais -por mais esforços façam- sempre
pesa o "pecado original" de serem estrangeiros, incapazes, por isso, constitucionalmente
de assumirem e de compreenderem uma cultura diferente da deles. Frei Daniel,
ao contrário, não é mais um estrangeiro: é
uma glória do clero paraense porque agora é o Servo de Deus
que se fez tudo para todos.
A "máquina" do processo dissemos - pôs-se em movimento, mas
o "caminho" está sendo percorrido com extrema lentidão; as
paradas, às vezes, são desconcertantes.
As dificuldades são tantas e os homens de Igreja, aqui no Brasil,
são de verdade muito poucos. Devem fazer diversas coisas ao mesmo
tempo e acontece que todas ou quase marquem vistosamente o passo.
Acrescente-se que o próprio processo se apresenta anômalo
e cheio de problemas.
Por exemplo: ao presente, excluída uma Irmã centenária,
não vive mais ninguém dos que o conheceram pessoalmente.
Podemos juntar somente testemunhos de segunda mão. São muito
interessantes, claro - o Leitor terá captado alguns deles no
decorrer destas páginas - mas são repetitivos e correm
o risco de documentarem muito pouco. Fica para nós último
recurso - o trabalho de arquivo; é o que estamos levando adiante
e só Deus sabe quanto é árduo e pouco proveitoso...
Em compensação - não sabemos se nos alegrar ou nos
entristecer - existem, continuam infelizmente existindo numerosos "Irmãos
cristãos"!
São eles os nossos Amigos e sustentadores. Eles os "torcedores"
mais afervorados. Eles que nos solicitam continuamente e nos obrigam a
agir. São eles que querem Frei Daniel santo: comprova isso o interesse
que sempre nos garantem todas as vezes que vamos até eles em nome
deste nosso e deles "Irmão cristão" maior!