"DA HORA SEXTA A HORA NONA..."
A hora final e cruenta do Calvário está para bater!

Estamos no final da cena com os Protagonistas no cume de seu sofrer!
O Diário terminou já faz tempo: Frei Daniel não pode mais escrever.. Com dificuldade dá poucos passos no seu "Retiro São Francisco". Largou há tempo seu ministério ativo.
Está aí jogado como Jó num leito de dores, ou melhor, está aí pregado na Cruz porque está para bater "a hora nona"!
É o momento de sua perfeita conformidade a Cristo Crucificado!

Quem pode verdadeiramente dizer o que se passou nesses meses cruciais no coração apaixonado de Frei Daniel?... Ninguém! Só Deus poderia, mas Ele em via normal não costuma dar a conhecer a todos aquilo que vai operando nas suas almas prediletas...
Certamente que naquela casinha de madeira tão pequena e tão preciosa foi escrito a quatro mãos - duas chagadas e contorcidas, mais duas transpassadas com pregos - foi escrito um capítulo estupendo da História da Salvação que ainda não parou de atuar!...
Frei Daniel bebe até à última gota o cálice amargo da Paixão redentora. Em todos esses anos deu provas - sustentado pela Graça - de poder beber o cálice de Jesus (cfr. Mt 20, 22). Agora é o momento da "esponja de vinagre num ramo de hissopo" (cfr. Jo 19, 29-30).

É necessário tomar também o vinagre, como Jesus, abandonado nas mãos do Pai.
Os co-irmãos capuchinhos do convento, os "Irmãos em Cristo", a admirável Maria da Penha não o abandonam, mas a Cruz é sua!, o drama do Sofrimento é seu! É seu até o "tudo está consumado" que pronuncia junto com Jesus! Nas mãos do Pai!
Frei Daniel ainda consegue celebrar a Missa dos seus 25 anos de Sacerdócio: com enorme esforço, voz rouca, mãos incapazes de segurar o cálice e de erguê-lo, mas louvando e agradecendo a Deus que o "premiou", (o verbo é dele!) com a lepra.

Oh, como era feliz! Como era doente naquele "grande dia"!...
Recebe o Viático e as palavras que balbucia penosamente resumem toda a sua vida: está acontecendo o grande encontro, face a face, com Aquele ao Qual serviu desde sua tenra idade...

As testemunhas oculares nos transmitiram relatórios desses últimos instantes de Frei Daniel. Lendo-os não conseguimos permanecer inertes ou indiferentes. Intui-se que aqueles momentos irrepetíveis pertencem exclusivamente aos grandes homens que fizeram sua opção radical por Deus...
Aquelas palavras balbuciadas, aparentemente desconexas entre si, são ao contrário costuradas por dentro com duplo fio num diálogo completo e fluente que a alma está tendo, como dona, com Deus...

Pouca coisa transparece dos membros do corpo que está prestes a ser abandonado, e é mais para quem assiste atônito e compungido do que para o titular daquele grande espírito.
E, inclinando a cabeça, entrega o espírito... Chega o dia da morte... Chega o dia do nascimento definitivo para o Céu dos Colaboradores... Chega o momento feliz da entrada na Glória…

Sua Missão esta cumprida: começa sua missão!
Sim,o Leproso Frei Daniel Rossini de Samarate, o de Respiro do Filho que mais uma vez se imola no Pai, começa
Frei Hermes Recanati de Spirano, pouco antes de morrer, narrava-nos que quando Maria da Penha - indo com ele visitar os doentes - lhe contava amplamente sobre a santa morte de Frei Daniel, sempre demorava num detalhe muito interessante para nós, a saber: no momento exato da partida levantou-se em vôo da casinha uma multidão de aves de toda espécie: foram e voltaram por várias vezes, batendo as asas e cantando com tal insistência que atraiu a atenção de todos os presentes.
Procuramos confirmações - escritas ou orais - desse detalhe maravilhoso.

Não as temos encontrado, mas todos sempre nos spondiam: a fonte - Frei Hermes, no caso - è respeitável, merece plena credibilidade... E nós a concedemos a ele com todo o prazer, pois lemos no "Tratado dos milagres" (IV, 32) de Thomas de Celano o que se segue: "As cotovias, amigas da luz do dia e medrosas das sombras do crepúsculo, naquela tarde em que São Francisco passou do mundo para Cristo, embora já tivesse iniciado o crepúsculo, pousaram-se sobre o teto da casa e garriram longamente, rodeando em torno. Não sabemos se quiseram do jeito demonstrar a alegria ou a tristeza cantando. Elas cantavam um alegre pranto e uma alegria dolorosa..."
A aproximação é por si mesma muito eloqüente é sublime até!
Fala sozinha...