MARIA
DA PENHA:
O ANJO
DO TUCUNDUBA
"Apareceu-Lhe um anjo do céu que o confortava..." (Lc 22,
43).
A esta altura partimos do Evangelho, partimos do Getsêmane de
sangue de Jesus para entrarmos com extrema tristeza e pudor no Getsêmane
de Frei Daniel.
O Leitor pese estas palavras e se deixe envolver na preciosidade de tão
grande padecer!
Frei Daniel também fala de um Anjo...
Quem è esse Anjo?
É um Anjo no feminino. Chama-se: MARIA da PENHA.
É uma ex-aluna do colégio de Santo Antônio do Prata,
uma órfã que cresce à sombra das Irmãs e de
Frei Daniel naqueles tempos gloriosos.
Agora acompanhou até no enclausuramento do Tucunduba seu professor
de outrora e se pôs ao seu serviço com uma dedicação
e uma fidelidade que despertam comoção e ternura.
É ela o Anjo que para poder permanecer tranqüilamente na casinha
do leproso Frei Daniel, sem suscitar com o passar do tempo boatos e comentários,
resolve até se casar com um doente. O Frei se opõe a esse
matrimônio. É realmente demais! Como poderia aceitar? E assim
sofre porque pode perder o seu Anjo consolador.. Maria, porém, é
irremovível e se casa com Humberto, o "Irmão em Cristo" Humberto!
É fácil escrever tudo isso, mas para fazê-lo era necessário
ter coragem e amor fora do comum... É santamente justo pararmos
um momento diante da figura desta jovem brasileira que consome sua vida
cuidando de dois doentes: Frei Daniel e Humberto que se toma seu marido
justamente porque ela quer continuar a viver no leprosário, pois
não quer sair do Getsêmane de Frei Daniel! Honra e glória
ao mérito!
Faz bem ao coração louvar e enaltecer Maria da Penha. O heroismo
não chega somente de longe, encarnado por um jovem missionário
italiano; encontra-se radicado e bem plantado, estupendamente florido também
na Terra de Santa Cruz, no grande e imenso Brasil!...
Estes dois heroísmos se fundem maravilhosamente para farjar criaturas
extraordinárias. Naturalmente, somos nós que falamos de heroísmo:
para os protagonistas desta história maravilhosa tudo aquilo era
somente normal administração!
Maria da Penha depois da morte de Frei Daniel viverá sempre com
profunda saudade de seu frade chagado. As chagas dele - dizia a todos com
insistência - não fediam, exalavam um perfume que por certo
sentia somente ela, visto que o confessor de Frei Daniel escreve impiedosarnente
a outro co-irmão: "O Rev. Frei Daniel é um saco de carne
podre"!
Maria da Penha viverá sempre lembrando-se dele enquanto trata, assiste
e conforta até às últimas o marido Humberto: são
palavras de seus filhos nascidos no Leprosário perfeitamente sãos.
Maria da Penha sempre se lembrará de Frei Daniel como sacerdote.
Dizia-nos emocionada uma Irmã Capuchinha que teve a sorte e a graça
de ter Maria como catequista e de vê-la morrer santamente; dizia-nos
que Maria explicava os Sacramentos servindo-se particularmente das lembranças
de sua vida lá no Tucunduba e quando devia falar da Eucaristia,
da Santa Missa, não conseguia conter as lágrimas pela emoção,
narrando como ela mesma nos últimos anos ajudava manualmente Frei
Daniel a celebrar a Santa Missa.
Como ele não podia mais erguer o cálice, por causa da
ausência do tato - típico nos doentes - não conseguia
manuseá-lo, assim como não conseguia partir a hóstia,
ela o auxiliava: apertava as mãos chagadas do frade em tomo do cálice
para que pudesse erguê-lo no momento da Elevação e
manobrava as suas mãos gangrenosas para que pudesse partir a hóstia
no momento da comunhão...
Naturalmente fazia tudo isso sem usar luvas, protegida e imunizada unicamente
pela sua grande fé em Deus...
"A Deus louvado" pelo dom precioso do
anjo Maria da Penha!...