OH,
NOITE SANTA… SANTO NATAL DE 1914…
Devagarinho, devagarinho,
porém, alguns dos mais sensíveis entre os "Irmãos
em Cristo", começam a demonstrar-lhe um pouco de estima e até
de afeto; pouco a pouco começam a chamá-lo para os casos
mais graves... Finalmente se dão conta - se não todos, pelo
menos a maioria - de que Frei Daniel, doente como eles, é um amigo
sincero, não é um espião, não...
E desponta resplandecente
de luz o NATAL de 1914! Santo Natal!
"Estoura" o milagre! À
noite! Durante a Missa do galo!...
Luzes, cânticos, poesia
do presépio preparado por mãos inseguras, ardor do Celebrante
que jamais tinha deixado de acreditar na bondade dos seus "Irmãos"...
Frei Daniel recorda no Diário
- 25 de dezembro de 1914: "Celebrei Missa de meia noite no hospicio dos
Lazaros, muito concorrida. Fiz sermão". Frei Daniel sente-se transportado
de repente ao céu. Parece-lhe escutar a melodia dos Anjos e são
seus próprios "Irmãos em Cristo" que lhe fazem degustar a
doçura, a plenitude, a riqueza, a alegria, o contentamento desta
vinda do Cristo...
Oh, como se sente bem Frei
Daniel neste céu do Tucunduba!...
A partir desse dia tudo se
torna mais fácil: seu ministério sacerdotal, sua catequese
diária durante a Quaresma, seu correr àcabeceira dos moribundos,
seu atarefar-se também no social. Mais ainda: haverá um período
de forte insatisfação no hospício durante o qual os
"Irmãos em Cristo" reclamarão em alta voz Frei Daniel como
administrador!... Ele não aceita, é claro, não pode
aceitar: quer somente ser o sacerdote, o capelão do espírito,
porém é bonito sublinhar esse pormenor, tendo presente aquele
longo período de obstinada rejeição.
Infelizmente uma irredutível
minoria - reduzida, acirrada continuará a mover-lhe guerra, insultando-o
sistematicamente, chegando até a caluniá-lo.
O Leitor veja por exemplo
quanto escreve no dia 19 de março e especialmente no dia 04 de setembro
de 1921 e
já faz seis anos desde sua entrada no Leprosário!
São páginas
extremamente sofridas nas quais parece quase saborear todo o amargo dessa
oposição.
É pacífico
que no fim ele sabe perdoar com aquela elegância e habilidade que
lhe reconhecemos, também porque aquele rancor surdo e persistente
não consegue absolutamente impedi-lo de exercer seu ministério
sacerdotal. Aliás, torna-o ainda mais precioso, torna-o ainda mais
aceito aos olhos de Deus, depois è nas fraquezas, nos opróbrios,
nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo
que a Graça manifesta todo o seu poder" (Cfr. 2 Cor 12,9- 10)...
Frei Daniel vai adiante com
coragem; machucado e vilipendiado, continua até conseguir andar
e mesmo depois não foge do seu ser apóstolo até o
fim, subindo aos poucos na alegria a Cruz de Cristo...
Aquele verbo "subir" quanto
nos lembra aqueles afortunados habitantes no tempo de seu bambu ao alcance
da mão!...