A REJEIÇÃO
CONTINUA... TAMBÉM LÁ DENTRO!
Frei Daniel entra no Leprosário com uma enorme vontade de se oferecer
aos seus irmãos, pronto a se deixar consumir pela dor física
e moral para manter acesa uma luz de esperança num lugar de horror.
Vai no meio deles.
Diz-lhes como toda a disponibilidade de seu espírito: eis-me
aqui, mas - quem poderia imaginá-lo? - os "Irmãos
cristãos" (San Francisco de Assis assim chamava os doentes leprosos)
não o querem, surpreendentemente não o querem!...
Armam logo contra ele uma forte oposição, terra queimada
criam em tomo dele, nem sequer para assistir os moribundos o chamam! Uma
provação na provação: muito dura porque não
prevista!
"Pensava ser recebido - confia amargurado numa carta a um co-irmão
- com demonstrações de carinho... Que desilusão! Fui
recebido como um inimigo, um intrometido que vem só para mudar as
coisas, para observar seus defeitos e assim castigá-los abertamente,
sem misericórdia...".
Pobre de Frei Daniel, reduzido a um mesquinho intrometido! Ele,
o homem brilhante, o homem das idéias generosas e abertas, capaz
de fazer frente a Governadores e altos Funcionários!...
Deve ter sido terrível!
Do Diário não transparece nada: não nos é possível
acompanhar esse martírio refinado. Parece tenha durado oito meses
até à noite santa de Natal. Um tremendo noviciado de indizível
amargura...
Mas ele permanece, saboreia o Cálice até a borra, e fica!
Os Superiores lhe tinham apresentado uma perspectiva bem mais cômoda
e tranqüila num hospital em Pernambuco como Capelão...
Ele fica e mantém-se firme!
Recusado, rejeitado, caluniado até por aqueles que já considera
"seus"... fica e mantém-se firme!...
Com aquela paciência que exclui toda retorsão, Frei Daniel
realiza verdadeiramente aquela página "Da verdadeira e perfeita
alegria" como somente Francisco de Assis poderia imaginar (Cfr. "Escritos
de São Francisco" Petrópolis 1988, p. 174).
"Vai-te embora"... aquele tríplice "Vai-te embora" da narrativa
brotada da fantasia fervente do Pobrezinho, rico de Cristo, ressoa de verdade
longamente no ar infecto do Tucunduba dirigido contra Frei Daniel!
Ressoa e enriquece seu sofrimento espiritual que o põe decididamente
debaixo da Cruz de Cristo numa atitude
privilegiada de colaborador.
A alegria - alegria perfeita - de Frei Daniel que enche todas estas
páginas começando pelo título que escolhemos:
A
DEUS LOUVADO, inicia a "explodir" aqui nestes meses de duro "treinamento",
aqui toma corpo aos poucos o "nosso bambu".
Frei Daniel, a imensidão do céu, a alcança e a conquista
assim!