O ADEUS DEFINITIVO: DOLOROSISSIMO!
Assim, acompanhado por um co-irmão atencioso, volta para Belém.
No convento - acolhido "como Deus quis" -permanece isolado por alguns meses e depois, livremente, com santa resolução e espírito de serviço, decide entrar no Leprosário do Tucunduba...
Antes de ir sepultar-se para sempre, beija os muros e as portas do convento com emoção impetuosa, chorando lágrimas copiosas...
Escreve Frei Roberto de Castellanza - Superior Regular de então e alguns anos depois Bispo de Grajaú - nos "Annali Francescani" (1922-53, p. 395): "Parece-me ainda vê-lo, ouvi-lo beijar os muros de seu convento quando pelos médicos foi decidido seu afastamento. Ele ia exclamando: "Oh! muros santos! Vocês me libertaram de tantos perigos e agora com o coração rompido tenho de abandoná-los..." e caíam-lhe abudantes lágrimas dos olhos...".
O Leitor no dia 27 de abril do ano do Senhor de 1914 - uma segundafeira! pode conhecer até a hora daquela tarde em que se encaminhou mestamente para o Leprosário: "Às 5 horas da tarde deixei (Oh! meu Deus quanto soffri) o meu convento para vir habitar neste retiro".
Escreve Sta. Teresa d'Ávila: "Deus trata seus amigos de maneira terrível".
Estamos dando-nos conta disso!
Ressoa lancinante dentro de nós aquela exclamação dele de autêntica dor, enquanto idealmente procuramos caminhar em sua companhia rumo ao "lugar solitário". E oxalá tivesse sido só solitário!
Acompanham-no duas pessoas: um frade - Frei Inácio -e um leigo tal Mestre Antônio -, um mestre-de-obras italiano daqueles belos tempos da Colônia do Prata. E os demais? Todos os demais: frades e não?...
É necessário beber o Cálice até o fim: Jesus estava tremendamente só no Getsêmane!
Dia 27 de abril de 1914, 5 horas de tarde!
É o fim daquela vida cheia de entusiasmo: muito povo, muitos projetos, grande exuberância febril! É o fim!...
Naquela tarde de abril inicia uma vida totalmente diferente. Ele está caminhando em direção a ela e somente dois companheiros o sustentam no primeiro impacto!
De agora em diante o grande missionário de atividades fecundas; capaz de oporse a governadores e funcionários morosos, obrigando-os com sua paciência e tenacidade a pagar para o bem de seus pobres; o missionário que amava imensamente viajar, ver as coisas belas e boas espalhadas pela Criação; o nosso Frei Daniel, de agora em diante, viverá internado, recluso numa nova vida feita de sofrimento e de morte progressiva e tudo isso durará dez longos anos: de 27 de abril a 19 de maio de 1924, dia de sua morte!...