O PRIMEIRO ADEUS: DOLOROSO
Tucunduba
Com muito prazer ele retorna, portanto, ao seu campo de trabalho; regressa para a sua Colônia, mesmo se não habita mais no centro por medo de contagiar seus numerosos meninos. Retira-se no vizinho Santo Isidoro de onde orienta tudo por meio do telefone, o famoso telefone.
Os meninos não entendem o motivo dessa escolha e - narrava-nos outra velhinha - todas as tardes iam visitá-lo (a distância é mais ou menos um quilômetro), chamavam-no gritando a plenos pulmões: Frei Daniel, Frei Daniel, e ele, sorrindo, vinha à janela, saudava, às vezes lançava balinhas, mas não descia, não ia brincar com elas como antes.
O dinamismo da Colônia continua incessante, a vida não pára, nem diminui a produção.
Pena que a doença assuma proporções sempre maiores, já transparecendo claramente em seu rosto tão meigo e volitivo.
Não pode mais permanecer lá.
Depois de treze anos, chega o momento de ter de deixar definitivamente o Prata!
O Leitor no dia 31 de janeiro do ano do Senhor de 1913 - uma sexta-feira - pode ler:

"Finalmente depois de 13 anos deixei o Prata!! Deus queira perdoar as muitas faltas que lá cometti e levar em conta o pouco de bem que tencionei fazer".
Pense o Leitor naquele "Finalmente" que aqui quer dizer somente uma coisa: tudo acabou... terminei...

Dê o justo valor àqueles dois pontos de exclamação. Por enquanto são o máximo de sua maravilha e de sua capacidade de sofrer. Mais adiante no Tucunduba, chegará a colocar três desses pontos exclamativos e estará pronto, de adeus em adeus a entrar na pátria definitiva!...
Os Superiores o transferem para o Maranhão, em São Luís, na esperança de que lhe seja propício o clima menos quente e mais seco. Ele, obediente como sempre, vai, trabalha com toda a dedicação e o entusiasmo que o distinguem. A nova experiência dura, porém, somente um período de oito meses e ei-lo de novo a caminho rumo ao Pará com o destino já determinado.
Um malogrado incidente - veja no Diário no dia 27 de julho de 1913 revela-o abertamente aos outros por aquilo que é: leproso! em mais nenhuma dúvida! Diagnóstico glacialmente claro e preciso!...
E obrigado a retirar-se do convívio dos sãos. Não há mais de forma alguma lugar para ele! Tiveram paciência e fingiram até por demais tempo de que nada houvesse... No entanto cresce o "nosso Bambu"! Oh, como se toma robusto e forte!
Os adeuses e as rupturas narrados nestas páginas, assinalam com marcas de fogo a vida de Frei Daniel... São a marca indelével que o uniram à sorte dos Pobres e dos Sofredores marginalizados... São a passagem de primeira classe que o colocaram nos trilhos privilegiados por onde pode transitar somente quem é capaz de beber do Cálice de Cristo, que acabou na Cruz...